Até o seculo XVIII, a região de Carangola apesar de incluída na jurisdição da Vila do Ribeirão do Carmo, atual Mariana, era interditada à exploração. Constituía-se a chamada “Zona Proibida”, área em que a mata não podia ser aberta para a ocupação humana, pois servia de barreira natural à região do ouro evitando assim o contrabando.
Nas margens do rio Carangola, onde havia um emaranhado de matas, viviam os índios Puris e os Tupinambás. Os Puris levavam uma vida nômade, habitavam em palhoças rústicas e vivam da caça, da pesca, de plantações indispensáveis a nutrição, já os Tupinambás, viviam em aldeias mais estruturadas, produziam cerâmica e praticavam agricultura. A primeira exploração da região ainda é uma incógnita. Consta que em 1781, o governador da Capitania de Minas Gerais, D. Rodrigo José de Menezes, em visita a Serra dos Arrepiados, na atual cidade de Araponga, determinou ao Padre Manoel Luís Branco que efetuasse expedição ao outro lado daquela serra, explorando as áreas dos futuros municípios de Fervedouro e São Francisco do Glória. Com a relação à chegada do primeiro homem civilizado à região de Carangola, existem várias versões. Supõe-se que tenha ocorrido, entre 1805 e 1810, por elementos da família Lannes ou Lanas.
Uma versão diz que em 1805 a Vila dos Arrepiados (atual cidade de Arapongas) foi cercada duas vezes pelos índios Puris. Para defender a Vila, o Cap. João Fernandes de Lannes financiou, armou e comandou duas expedições contra os indígenas. Partindo, então, da Vila de Arrepiados, acampou em plana mata, as margens de um pequeno córrego, provavelmente onde fica a alta Praça Cel. Maximiniano e mais tarde ao retornar, formou uma grande fazenda na atual cidades de Fervedouro.
Uma outra versão diz que os irmãos Lannes, vindo da Barra do Muriaé, subiram o rio Carangola, familiarizando-se com os Puris que o auxiliavam no plantio de cereais, na derrubada das matas e na extração da poaia e, mais tarde fundaram a fazenda Porto Alegre, em Itaperuna (RJ).
Na década de 1840, novos povoadores chegam a região formando fazendas e cultivando roças que se destinavam a cultura de subsistência (milho, feijão, mandioca). Dentre eles destacam-se Manoel da Silva Novais na Cachoeira do Boi; Cel. Maximiniano Pereira de Souza em São Matheus (Faria Lemos); Marciano Pereira de Souza e Antonio Carlos de Souza em Carangola, Paulo José Leite em Santa Margarida; Antônio de Caldas Bacelar em Caiana; José Joaquim de Souza na Faz. do Bom Jesus; Tem. Cel. José Batista da Cunha e Castro em Divino; Antonio Dutra de Carvalho “Dutrão” em Caparaó e outros.
Com as instalações das fazendas e o crescimento da população procedentes de várias partes de Minas, Rio e Espirito Santo, surgem pequenos aglomerados urbanos margeando o rio Carangola.
A produção aumentava dia a dia, sendo necessária a abertura de estradas que dessem vazão aos produtos. As tropas, em pequenos bandos, desciam os rios Carangola e Muriaé, levando a Campos de Goitacazes (RJ) o que se produzia de excedente, e de lá traziam o que não se podia obter no local. Apesar da distância, péssimos caminhos e raríssimas pontes a população aumentava. Novas posses e novos empreendimentos se sucediam; expandem-se as propriedades, multiplicaram-se os trabalhadores e aos poucos, a mão de obra indígena foi substituída pelo braço do negro africano.
Tombos do Carangola foi uma das primeiras povoações formadas, no vale mineiro do rio Carangola, graças à doação de terrenos feita pelo Cel. Maximiniano e outros fazendeiros dos arredores. Mais acima, surgia outra comunidade, Santa Luzia do Carangola (atual Carangola).
Sobre a escolha da padroeira dessa comunidade existem duas versões: a primeira de origem religiosa conta que, em 1856, o Capitão Antônio Carlos de Souza, ao lavrar uma pedra para moinho teve seu olho atingido e lesionado por um estilhaço. Em devoção a Santa Luzia, o Cap. Antônio Calos prometeu que se fosse curado da lesão, construiria uma igreja em homenagem a Santa. Como a graça foi alcançada Cap. Antônio Carlos durante uma reunião de fazendeiros locais propôs a construção de uma igreja em homenagem a Santa de sua devoção.
Uma segunda versão, aborda uma questão política, como a primeira paróquia da região foi fundada em Tombos, tradicional reduto do Partido Conservador. Entretanto como os adeptos do Partido Liberal “Luzias” achavam humilhante frequentar a paróquia da oposição decidiram construir sua própria Matriz, escolhendo Santa Luzia como padroeira em referência a Revolução Liberal de Santa Luzia-MG de 1842.
Apesar das controvérsias, o que há de concreto é que em 06 de janeiro de 1859 José Moreira Carneiro e Manoel da Silva Novais compraram de Francisco Pereira de Souza uma extensão de terras para formação do Patrimônio de Santa Luzia do Carangola.
Em 07 de outubro de 1860, o povoado foi elevado a Distrito de Paz e incorporado ao recém-criado Munícipio de São Paulo de Muriaé. Em 1862, foi elevado a Curato, filial a freguesia de Tombos do Carangola, pelo Bispo de Mariana, Dom Antônio Ferreira Viçoso.
Em 02 de janeiro de 1866, o Distrito de Santa Luzia do Carangola foi elevado a Paróquia, condição conservada até 1878. Somente em 25 de outubro de 1881 a Vila de Santa Luzia do Carangola foi elevada à categoria de cidade e designada para ser a sede do Munícipio.
Em 07 de janeiro de 1882, foi instalado o primeiro governo Municipal. José Ribeiro de Almeida Tostes, Vereador na Câmara Municipal de São Paulo do Muriaé, em nome do Governador Provincial, deu posse aos 07 vereadores eleitos a Câmara assim constituída:
Presidente: Dr Manuel Afonso Cardoso
Vice-presidente: Antônio Carlos de Souza
José Luciano de Souza Guimarães
Mariano José Soares
Antônio Antunes Vieira
João Marcelino Teixeira
Estevam Rodrigues Pedrosa
Quando Carangola emancipou-se, a cidade tinha apenas 36 casas, 5 ruas e 2 praças.
Rua Municipal: Rua Pedro de Oliveira;
Rua do Comércio: Rua Marechal Deodoro;
Rua dos Romanos: Rua Santos Dumont;
Rua do Morro: Rua Santa Luzia;
Rua do Buraco: Rua Xenofonte Mercadente;
Largo da Matriz: Praça Cel. Maximiniano;
Largo do Rosário: Praça Gov. Valadares;
O município possuía uma área com mais de 2000 km² que hoje abrangem os municípios de Alto Caparaó, Caiana, Caparaó, Carangola, Divino, Espera Feliz, Faria Lemos, Fervedouro, Orizânia, Pedra Dourada, São Francisco do Glória e Tombos.
ORIGEM DO NOME
O vocábulo “Carangola” que deu nome ao Rio e ao Município, ainda é uma incógnita possuindo várias versões. Alguns autores acreditam que tal nome tem origem e significado provido da expressão portuguesa “Cará de Angola” (isto é referência aos indígenas que pintavam o rosto semelhante a africanos de Angola). Uma outra versão se refere a “cará-do-angola” (espécie de capim), surgiram depois que o elemento branco, começou a povoar as margens, no século XIX. Em linguagem indígena com africana significa “diabo velho dos matos”, “rio que arranha”, “capim redondo”; outros acreditam que seja de origem africana a região que hoje constitui fronteira entre Costa do Marfim e as Repúblicas de Mali, no século XVII tinham a denominação de “Cangolas” e “Carangoles”. Uma outra de origem africana diz dos crentes do candomblé – existe uma entidade denominada “Exú Carangola”. Entretanto, de acordo com a versão mais aceita, o nome Carangola é devido ao fato de haver abundância “cará” (nome comum a várias plantas dioscoreáceas; inhames), no meio do capim angola, às margens do rio. Na época das cheias formavam-se grandes ilhas cobertas de carás em determinadas partes do rio. O cará pelo fato de estar misturado no capim de angola foi chamado de “CARÁ – ANGOLA”. Depois se fundiram pelo uso das duas palavras.
Fonte: Cultura Carangola